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Qual o último filme você assistiu? - 2015 ~ 2017


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491 respostas neste tópico
 #461
Esperando esse filme aparecer com qualidade decente nas lojas porque não deu para ir no cinema.
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 #462
Osaka Elegy (Naniwa erejî)
Kenji Mozoguchi, 1936 Japão

[Imagem: 9QvoqI4.jpg]


Primeiro preciso compartilhar algo bacana sabre assistir filmes dessa época de 1930-1950.
Durante a década de 30 esses diretores experimentavam e inventavam mais com a câmera, observe como esse filme tem panning, tracking, ângulos variados de todos os ângulos e lados, reflexos. Exceto pelos cortes mais bruscos parecem filmes mais modernos do que os que vieram depois. No pós-guerra isso se tornou raro, era um virtuosismo desnecessário, pararam com isso, os filmes ficaram aparentemente mais simples e as mudanças passaram a ser mais na atuação, entre outros detalhes.

[Imagem: CdppSTJ.jpg][Imagem: iZbNjKm.jpg]

Agora falando do filme, foi excelente ter assistido a ele logo após ter assistido Street of Shame de 1956. É como se os dois filmes fizessem um diálogo.
Naquele outro filme é como se a mensagem fosse que não tem outro jeito para aquelas mulheres que não viverem para elas mesmas, e uma das personagens é exemplo disso. Egoísta, usa os homens como pode, e no fim dá a volta por cima na vida. Ela se torna um exemplo de como é possível para aquelas mulheres se tornaram independentes e donas de si.
Então assisto Osaka Elegy e parece seguir na mesma linha.
O pai da protagonista está desempregado e ameaçado de ser processado por ter fraudado o trabalho, o irmão terá que abandonar a faculdade por falta de dinheiro, a irmã mais nova ainda está no ensino médio, e no trabalho o chefe a assedia enquanto o pretendente apenas promete ajuda sem fazer nada. Chateada com o pai por não suportar a vergonha do que ele fez, alegadamente para criar os filhos, ela acaba saindo de casa e aceita ser amante dos DOIS patrões (porque a segunda vez é mais fácil, ela repete para ajudar o irmã) para pagar a dívida do pai, irmão e irmã.
No fim um dos chefes a denúncia para a polícia por ter enganado ele para conseguir dinheiro e acaba sendo rejeitada pela família que a expulsa de casa. Antes de sair de casa ela não estava sendo hipócrita? Porque queria que entendessem que ela fez o que fez, se sacrificou, pela família, e acaba sendo rejeitada da mesma forma que ela rejeitou o pai. Outro hipócrita por se envergonhar da filha por ter feito o que ele mesmo fez e defendeu.

"Há cura para delinquência feminina?"

[Imagem: BS4hZo3.jpg][Imagem: NI4I430.jpg]

É uma doença?
O único desvio é como os mau feitos dos homens sempre são minimizados e os da mulheres sempre exagerados. No início do filme vemos o padrão da protagonista e sua esposa, e como ele reclama que ela não liga para ela, está infeliz com o casamento, e ela diz não se importar se ele for atrás de outra. Mas quando ela descobre que ele está com outra ela culpa a amante e faz o marido de vítima.
De todo modo, errado é errado, independente de quem erra.
Talvez nessa época o Mizoguchi fosse mais otimista pelo futuro, enquanto na época de Street of Shame no fim da vida ele abraçou a ambiguidade e se tornou mais realista. As mudanças na sociedade eram positivas, no entanto para as mulheres muitas eram fachada.
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 #463
Zatoichi on the Road
Kimiyoshi Yasuda, 1963 Japão

[Imagem: cS67yxg.jpg]


Quem não conhece essa é uma série que iniciou em 1962 e seguir por décadas com vários filmes no mesmo ano.
Zatoichi é um personagem famoso do cinema, um espadachim cego.
Antes desse eu só tinha assistido ao filme de 2003 com o Beat Takeshi como protagonista, e a princípio eu pensei em assistir ao original antes de ouvir um podcast sobre ele, esse aqui é o quinto filme da série.

Nesse filme o Zatoichi está atoa, quando sem querer é envolvido em dois casos, escoltar até Edo uma jovem que uns samurais estão tentando matar, e o assédio de dois líderes de gangue rivais que disputam ele para lutar pelo lado deles.
Tenho que dizer logo, o primeiro caso tem talvez um pequeno furo.
A garota está sendo perseguida para ser morta por besteira, travessuras de samurai típicas. Só tem um grupo de lacaios dele seguindo ela, não é um grupo tão organizado e determinado. Lá pelo menos do filme aparece uns três ainda correndo pelas estradas tentando encontrar ela e um deles quer parar porque não quer matar ela e porque a ordem do mestre dele é imbecil. E nunca mais aparecem, ficam para trás.

Enfim, o principal é o caso dos dois líderes que estão armando uma batalha e envolvem o Zatoichi. Depois de encaminhar a garota para Edo ele resolve ir até um deles e contar o que aconteceu no caminho e aceitar o trabalho em troca de dinheiro. Mas na verdade ele está puto com os dois e está tramando matá-los para pararem de perturbar o povo das cidades deles.
Isso que é bacana no Zatoichi, é um anti herói que não tem pena.
Você vê o Zatoichi amigável e rindo mas na verdade isso é um mau sinal, o riso dele é um riso nervoso como se estivesse se esforçando para se controlar e não sair cortando as pessoas indiscriminadamente. Quando enganam ou são desonestos com ele ele fica puto e dependendo da pessoa ele não se esquece e pode cobrar depois.
O Zatoichi é um personagem que parece que desistiu de ter uma vida direita, por saber usar espada sempre atrai problemas e ele já matou demais para deixar o passado para trás e levar uma vida honesta. Fiquei chateado vendo como ele se deu bem com a garota e ela gostava dele e queria que ele fosse com ela para casa, para possível casarem. Ela gostava dele, levando ele com ela ela poderia tirar ele daquela vida, mas no fim o Zatoichi mesmo contra a vontade ele abandona ela e até empurra a garota para outro.

[Imagem: DMF3Y8G.jpg][Imagem: Vd0wbe2.jpg]

Agora fico pensando se esses filmes tem personagens recorrentes.
Será que em um outro filme essa personagem aparece?
Seria interessante se fizessem isso, assim daria sensação de que há uma consistência em todos esses filmes, que as ações do Zatoichi de fato deixam marcas aquele universo.

[Imagem: POLpgC9.jpg][Imagem: 5ipm7JT.jpg]

Tecnicamente o filme é bom e bonito, bom uso de cenário externo e estúdios.
Boas imagens e fotografia.
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 #464
Um comentário pro fora.
Outro dia surgiu "em algum lugar" um novo filme do Kinoshita, filme raro, que você não contra por aí. Uma pessoa comentou se era possível conseguir outro raro e a pessoa que trouxe o filme disse para dar para ela "uma semana ou duas".
Não acreditei, era possível conseguir em tão pouco tempo um filme raro?
Sim, era possível, e a pessoa conseguiu em dois dias!

Que época para se viver. Icon_lol
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 #465
Steam Boy

Anime bonito pela sua animação, por todos os detalhes e como uni 2D com 3D, mas no fim com um vilão fraco e faltando uma história mais convincente.
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 #466
Assisti Arrival.

[Imagem: t0kLc0c.gif]


Acho que depois assisto novamente para comentar.
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 #467
Arrival no dia seguinte já não estava gostando muito.
Hoje acho um filme bem mediano e forçado.


The Hidden Fortress (Japão, 1958 Akira Kurasawa)

[Imagem: jdqF2DS.jpg]

Precisa dizer que é um bom filme?
Apesar disso ele não é "genial". É um filme simples, com personagens simples, mais para o humor leve.
No entanto algo que é "genial" é a qualidade das imagens, a forma com tudo é filmado. Isso aqui é uma super produção, cenários grandiosos as vezes, sempre tem movimento ou alguma textura interessante na tela. Filmes do Kurosawa se esforçam para cada imagem ser visualmente interessante, um espetáculo.

[Imagem: 7Cyahxr.png]

Esse é um filme que dizem que inspirou muito o George Lucas.
O "Jedi Mind-Trick" foi foda.

Até tenho vontade de pegar e sentar para assistir aos outros filmes do Kurasawa, mas toda vez que vejo um fico tão impressionado... é como se fosse um cinema japonês "hollywoodiano". São filmes para ser apreciados como você disse, então tenho que assistir um de casa vez com uma pausa grande entre eles. Por melhores e mais interessantes que sejam os outros filmes que tenho assistido nada deixa o mesmo impacto visual do Kurosawa.
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 #468
Sisters of the Gion
(Japão, 1936 Kenji Mizoguchi)

[Imagem: Nn0ZYh4.jpg]

Esse filme é do mesmo ano de Osaka Elegy e é semelhante a ele tematicamente.
Podemos dizer que esses dois filmes mostram três mulheres tentando se virar naquele mundo de homens, cada um de um modo diferente, e todas se dão mal no fim.

Talvez você possa pensar sobre esses filmes e o que eles falam e concluir que não havia solução, não havia alternativa para as mulheres. O que elas podiam fazer para viver com mais dignidade e independentes SEM serem condenadas? É como se dissessem que elas não podem fazer nada, para algo mudar é a sociedade que precisa fazer algo. Não há como escapar dentro daquela sociedade, não importa sua atitude, você continua dentro da sociedade e sofrendo com ela.

Nesse filme as duas irmãs são geishas, uma mais velha e outra mais nova.
A mais velha dá abrigo para um homem que foi a falência, "por obrigação", e naturalmente a irmã mais nova e com pensamento mais moderninho repreende ela e tenta ajudar a seu modo a se livrar daquele encosto. Todos os personagens masculinos não pensam e não se importam com nada disso, é natural para elas. A mais velha sabe que está errada mas está fazendo o que pode na esperança de conseguir algo e um patrono. No fim não dá certo. A mais nova despreza os homens e tenta se aproveitar deles para ajudar a irmã e logo as armações são desmascaradas e ela se dá mal.
Esse filme vai um pouquinho mais longe no alerta que de a mulher que saí da linha "pode se ferir", porque aqui depois de enganar os homens eles cumprem a promessa de dar o troco e a mais nova acaba bem machucada. Pegar ela e espancam, e fica impune, porque esse tipo de coisa é normal. Há crimes e crimes, os cometidos pelas mulheres especialmente contra os homens é imperdoável, é um desvio da normal, uma ameaça social e é punido com mais rigor.

A cena final é previsível.
Fazer o quê, "please, understand porra!".

É bacana ver como o Mizochi fazia "filmes propaganda" sobre a causa das mulheres a tanto tempo.
Não era o único, mas ele era o que falava mais abertamente parece.
E como sempre em filmes da década de 1930, há muito mais preciosismo técnico. Menso do que Osaka Elegy, mas tem várias cenas de câmera seguindo pelo cenário, blocking mais rebuscado visualmente, e movimento da câmera durante uma cena de longo diálogo para deixá-la mais interessante. Isso é mais usado nas cenas em que a mais nova está levando os homens na conversa, fica mais claro que não é um diálogo comum como os outros do filme e que algo que está acontecendo ali naquela troca. Gostaria de ver mais diretores usarem esse recurso.
Visualmente só é uma pena que por ser um filme daquela década e ter muitas cenas de noite seja um filme bastante escuro. Não havia solução, o ISO das películas deveria ser baixíssimo na época.

Enfim, mais um filme assistido.
Responder
 #469
Throne of Blood, 1957 Kurosawa

[Imagem: 6kt4ss3.jpg]

Fiquei decepcionado.
Como um filme do Kurosawa ele é bastante bonito, com aquela fotografia bela e única dos filmes dele.
Só que o filme em si foi fraco, achei muito fraca essa trama de um destino que os personagens acabam trabalhando para fazê-lo cumprir. Só que a forma como aconteceu com a mulher de um dos protagonistas aporrinhando o tempo todo, o foco em só um lado, com pouca profundidade e aquela atuação kurosawana de samurai exagerada não me convenceu, foi bobo.
Assistir a esse filme só foi bom por eu poder apagar ele e liberar espaço, uma pena.
Responder
 #470
The Life of Oharu
(Japão, 1952 Kenji Mizoguchi)


[Imagem: eaKHtln.jpg]


Como "todo filme" do Mizoguchi esse é um filme de "mulher sofrendo", só que apenas isso.
Ele se passa no final do século 17, é um filme "de época", então já podem imaginar que o cenário não é dos melhores para as mulheres em geral, só que o fimle é apenas sobre isso mesmo, mostrar a vida dessa mulher Oharu e tudo de ruim que acontece com ela, tudo injustamente. E quando dizemos "tudo", é tudo mesmo. É só uma série de infortúnios, um atrás do outro, e a Oharu é quase uma santa, ela não reage, o que é um pouco estranho para um filme do Mizoguchi. Ela mal reclama, ela não se defende, não se revolta, nas raras ocasiões onde ela esboça alguma reação é quase infantil, e intensificado pela sociedade da época, a única alternativa de felicidade dela é casar o que também é negado.

[Imagem: 8Ci55kZ.jpg][Imagem: 8GmDMGq.jpg]

Queria saber o que o Mizoguchi tinha a dizer sobre esse filme, porque ele é bem diferente dos filmes dele.
É uma "super produção". Não tem grandes multidões como nos filmes do Kurosawa, mas os cenários esbanjam. O filme não é confinado a apenas uns poucos cenários humildes, uma muitas ruas e templos antigos. O filme é muito bonito de se ver também, só que nesse caso já deve ser mais crédito do cinematógrafo Yoshimi Hirano.
Voltando para a história, ela é baseada em uma novela, e talvez se há algo que possa ter interessado ao Mizoguchi e que vale apontar é o detalhe dos budas no templo. O filme começa quase pelo final, entra em um longo flashback e depois volta para onde começou para terminar a história. O flashback se inicia quando a Oharu entra em um templo cheio de pequenas estátuas de buda e reconhece o rosto de um homem da vida dela em um deles. Quando o filme volta para esse ponto na história a Oharu comenta esse detalhe para outras mulheres que estão com ela que também reconhecem rostos da vida delas nos budas.
Eu disse que a Oharu é quase uma santa nessa história pela forma como ela não reage, e há esse paralelo, os homens que de santo não tem nada tem seus rostos representados como seres iluminados.

[Imagem: VMokEdP.jpg]

Enfim, esse filme não acrescentou muito na filmografia do Mizoguchi, e nessa altura não esperava que tivesse.
Falando de aspectos técnicos, é clara a evolução que tiveram ao filmar cenas noturnas.
Você assiste Osaka Elegy e Sisters of the Gion que são da década de 1930 e eles são bastante escuros, eles filmaram mesmo cenas durante a noite, e naquela época a tecnologia de filme, lente e câmera não era boa o bastante. Posteriormente criaram soluções para isso, passaram a filmar cenas noturnas, quando externas no caso, durante o dia com uso de filmes na lente. Coloque um filtro vermelho na lente e o céu fica escuro, pronto. Esse filme é um deses casos, filmes dessa época, em preto e braco, com cenas noturnas, tem um aspecto característico, cinzas.
Ainda deve ter cenas noturnas, filmes e câmeras já deveriam ter melhorado basante para essa condição de luz, e essa é uma produção onde devem ter tido recursos para bancar iluminação artifical mesmo assim acredito que usaram muito desse truque de filtros.

[Imagem: D8nSrnl.jpg][Imagem: UPV1DHf.jpg]


Próximo filme dele que devo assistir é "A Geisha", um filme do ano seguinte, e pelo nome podem adivinhar do que se trata. Apenas um comentário, ele parece tocar na questão da guerra Russo-Japonesa, e reparei que tenho alguns filmes aqui na fila que tocam na mesma questão/acontecimento. Tentarei prestar atenção porque pode ser relevante, foi a partir daquela guerra que o Japão deu de fato início a sua fase imperialista no século 20.
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