Como não gostar desse filme?
Há dois perigos no filme e ele nos dá pistas dos dois, em momento nenhum tenta enganar fazendo pensar que um dos perigos é falso. Achei ele honesto por causa disso, só que os personagens né... um dos perigos é muito difícil de acreditar por isso os personagens se preocupam mais com o outro e te faz pensar o que irá acontecer e como irão reagir quando se depararem com o perigo negligenciado.
Sobre o final,
Spoiler:
poderia ter sido mais sutil, ao invés de mulher o tom para quase ação poderia manter o suspense com a personagem percebendo que havia de fato uma invasão extraterrestre em andamento e tentando não se desesperar e pensar rápido no que fazer. Ao invés de ela até destruir uma nova e terminar por cima indo ajudar outras pessoas poderia ter acabado com o clima de "será que ela conseguirá chegar viva em um novo abrigo?".
Pelo menos minha opinião.
E não pode deixar de mencionar as teorias de conspiração sobre o filme,
Spoiler:
sobre ter ligação com o universo de Half-Life. Quando vi aquela nave achei MUITO parecida com as do segundo jogo, fui pesquisar e confirmei que há mesmo essas suspeitas. Seria bacana se eles conseguirem fazer mais filmes da "série" e servir de apoio para um eventual filme do jogo.
Só tem um defeito,
Spoiler:
o outro personagem deveria ter explicado ou ao menos tentado explicar melhor o que ele viu no dia em que entrou no abrigo. Primeiro o que ele viu, depois o caso da mulher que morreu na porta. Ele deveria ter comentado com a outra personagem, "ok, o cara está mentindo, mas o perigo lá fora é real, o que faremos depois? Quer mesmo arriscar sair lá fora com essa máscara caseira?"
Gostei. Algumas coisas são inevitavelmente previsíveis para quem já tiver visto pelo menos alguns filmes de introdução de heróis, nada espetacular ou original nesse aspecto, mas bem feito o bastante para passar o tempo. Tem um CG bem estranho no início, durante a luta da mestre contra os caras maus, mas fora isso curti muito os efeitos especiais e a atuação do Cumberbatch está bem decente.
Se algum entendedor das hq's estiver por aqui ainda, seria através desse filme que eles abririam espaço para tratar de multiverso e outras coisas do tipo ou estou só viajando?
Só avisando que o filme Shin Godzilla já está disponível por aí.
Por problemas técnicos só poderei assistir daqui uma semana, então ainda não posso opinar.
Ai to Kibo no Machi (Uma Cidade de Amor e de Esperança)
Nagisa Oshima, 1959 Japão
Comentários dizem que é um filmes "diferente" do Oshima por ser "convencional".
Me lembro vagamente de já ter ouvido comentários sobre esse diretor, porém não saberia diferenciar esse convencional porque não apenas é o primeiro filme que assisto dele, é também o primeiro filme dele como diretor. Um diretor pode mudar muito de estilo ao longo da carreira, aconteceu com o Naruse que era super experimental no início da carreira e depois se aquietou e se tornou convencional.
O Oshima parece ser do tipo de gostar de histórias e dramas sociais, é o que é esse filme.
Vivendo naquelas favelinhas que vemos em Tóquio em Ashita no Joe, o protagonista Masao, um estudante do ginásio, vende pombos para garantir a sobrevivência dele e da irmã pequena. É um golpe, porque pombos criados voltam para o que entendem como casa, por isso ele já vendeu o par de pombos da irmã Yasue várias vezes. Um dia uma menina rica e boa samaritana compra os pombos e acaba se aproximando e se envolvendo com ele. O Masao está no dilema de trabalhar ou ir para o colégio, a mãe quer que ele estude mas eles não tem muitas condições disso. A professora quer ajudar ele acaba trabalhando junto com a menina rica, Kyoko, para arranjar um trabalho para o Masao na fábrica do pai e se envolve com o irmão dela que fica interessado.
Muitos filmes dessa época abordam alguma questão social de forma bastante didática e esse filme faz um pouco disso.
No entanto no fim me surpreendeu pela ambiguidade na resolução das questões. Posso dizer que o filme pende para um lado, mas não é tão simples assim no final.
O Masao é recusado no teste da fábrica do pai da Kyoko porque descobrem a história dele vender os pombos, o que é um pequeno crime, desonesto.
A situação abala o romance que se desenvolvia entre a professora e o irmão da Kyoko, e podemos entender o lado de cada um. O irmão está em uma situação difícil, porque para alguém que pertence a um grupo tão rigoroso sobre honestidade, é correto ele interferir para empregar o Masao? Em interpretação minha, alguém foi contratado no lugar do Masao, e não poderia ser alguém em situação tão precária quanto ele que resistiu a situação? Ele entende muito bem a revolta da professora, o Masao não fez por mal, foi por necessidade e desespero.
Interessante ver que os dos que mais se revoltam com a situação são o Masao e a Kyoko. Ele não queria vender os pombos, ele diz isso mais de uma vez no filme, mas ele teve que vendê-los. No fim perdeu uma oportunidade (que não teria vindo se ele não tivesse vendido os pombos de todo modo) e fica naquele estado de "era melhor ter morrido do que se desonrar". A Kyoko que era a mais idealista e tão boa samaritana no fim é a única quem não consegue perdoar, e depois de cobrar novamente o pombo sobrevivente com o Masao o mata. Ela que tanto insistia para os outros para perdoar os defeitos dos outros foi quem não conseguiu perdoar o Masao ao descobrir que ele não era perfeito como ela idealizava ser. Achei muito interessante ela matar o pombo, e o irmão ser cúmplice nisso. O irmão adulto, maduro, que sabe "como o mundo é", "como as coisas são", que aprendeu a se conformar. No fim eles que tem meios e vontades de fazer alguma coisa para ajudar os que estão na sarjeta acabam sendo os que mais pisam em cima deles. E o Masao termina com sua honra mas conformado em viver na dura pobreza, porque para a sociedade esse é o correto, você não pode enganar o sistema para subir.
Foi um filme com mais pensamento do que eu esperava, e um filme curto, interessante.
The Handmaiden(A Criada)
Park Chan-wook, Coreia do Sul 2016
Mais um para vir aqui escrever: "QUE FILME!".
Sabia de nada do filme, apenas que era do Park, por isso assisti.
Estava estranhando quando já no começo previ alguns desenvolvimentos entendi qual era a proposta do filme. Puta cenário lindo de morrer, vestuário de tirar o fôlego, pano de fundo de guerra e vingança entre duas nações, intriga aristocrática, um grande crime onde a chave para o sucesso é destruir a vida de uma inocente... Mais um filmaço de diretor coreano sociopata né? Só que é uma comédia pastelão com um romance lésbico passando a perna no Don Juan maloqueiro! Só o Park Chan-wook para inventar algo assim.
Inacreditável!
O filme nem é tão grandes coisas assim, esse tipo de narrativa que vai se desfraudando a partir de cada ponto de vista não é novidade, não mesmo. E aproveitaram o boost de vendas que filmar duas mulheres se agarrando pode ter, mesmo assim, mesmo assim! O humor é tão charmoso que não tem como adorar.
Eu não devia comentar nada, é o tipo de filme que faz mais sua alegria quando você desconfia de nada sobre ele, mas eu tinha que escrever tudo.
The Woman of Rumour (Uwasa no Onna)
Kenji Mizoguchi, 1954 Japão
A ideia do filme é simples, é dita no final: "quando a fila de mulheres esperando para ocupar um lugar naqueles prostíbulos irá acabar?".
Podemos minimizar, são geishas, não simples prostitutas, mas a ideia por trás do negócio tem diferenças frágeis. No fim as mulheres sem vendem para homens, a maioria moralistas e hipócritas.
As mulheres não tem muita escolha, as que estão no negócio não estão porque sonharam em fazer parte dele, foi o que encontraram para conseguir sobreviver. No final do filme mais uma garota procura trabalho lá por necessidade. Por mais que queriam não há alternativas fartas para todos, é aceitar a vergonha ou que algum membro da família morra de fome ou doente.
Enfim, esse filme é de 1954, dois anos antes da proibição oficial da prostituição no Japão.
Foi uma proibição "para inglês ver", mesmo assim teve muito impacto e talvez imagino eu, algumas mulheres até se beneficiaram disso, porque poderiam se proteger com a lei e serem apenas acompanhantes e animadoras de fato. Até hoje existem geishas por lá.
Sobre o filme, ele começa com a filha da dona de uma casa dessas voltando para morar lá (em Quioto), porque a mãe foi buscar. Ela morava em Tóquio e teve uma desilusão amorosa tão forte que tentou se matar. A filha é muito ressentida e culpada por causa da mãe, cresceu saudavelmente as custas do trabalho infame de outras mulheres, e o noivo enxotou ela ao descobrir o negócio da mãe dela.
É uma situação complicada onde ela fica entre a raiva e o remorso.
O que ela pode fazer, as mulheres da casa são mulheres como quaisquer outras, todos sonhando em um dia sair dali e ter uma família decente. A mãe também não é uma exploradora insensível, ela trata as mulheres da casa muito melhor do que outras casas, educou a filha longe daquilo e também gostaria que um dia o negócio acabasse.
Na época em que o filme se passa não há muito o que elas podem fazer devido a situação do Japão, ainda muito dividido entre a tradição e a "ocidentalização". O aspecto social e econômico ainda não estava pronto para acomodar as mulheres da época, elas já eram mais aceitas em alguns locais de trabalho, mas ainda com muitas limitações.
Se bem que o filme não mostra muito disso, mostra mais o aspecto desgraçado dos homens.
Há um personagem chave na trama que é nojento, e no fim fim as mulheres só tem nelas a quem confiar e colaborar. Sem nenhuma personagem conseguir fazer o que quer para a vida elas o filme termina com essas mulheres trabalhando juntas para fazerem o que podem no momento.
Um detalhe intrigante é a sugestão dentro da trabalha de como o amor feminino é ridicularizado.
Quando é um homem que se apaixona por uma geisha por exemplo, é algo normal, nada demais, esperado. O inverso não pode, e não apenas dentro dessa situação. Tola a geisha, tola a filha, tola a mãe, apenas por amarem um homem. Todos otárias, vão amor logo um homem, um homem, o que esperavam?!
Não é um grande filme, mas parece um filme típico da época para o diretor.
Diferente de outras clássicos dele esse aqui não tem nenhum destaque técnico visível.
Fiquei interessado para ver alguns outros dele sobre a mesma temática, ele tem vários.
Há outros filmes aqui mais antigos, incluindo do Mizoguchi, que eu queria assistir, mas depois de assistir ao anterior eu tinha que assistir a ele em seguida.
Street of Shame (Akasen Chitai)
Kenji Mizoguchi, 1956 Japão
Ele é extremamente relevante para o que comentei sobre o filme anterior.
Ele estreou em Março de 1956.
A Lei Anti-Prostituição foi aprovada em Abril de 1956.
Entrou em vigor em Maio de 1958.
Durante o filme a lei é discutida no parlamento e votada, com forte debate público.
Essa situação de fundo tem uma grande importância na história.
O filme acaba com a lei sendo rejeitada, o que me fez pensar, se quando esse filme foi feito já se conhecia o resultado final da votação e ter a lei rejeitada no filme era uma opinião sobre ela. Porque o que a lei fez foi apenas proibir o sexo remunerado, apenas isso, ela não acabou com a prostituição. Foi apenas uma lei moralista "para inglês ver". Ela pouco fez para atacar as coisas da prostituição, as situações que faziam tantas mulheres terem que recorrer a vender o corpo para não morrer de fome nem a família.
Mas não...
O filme veio antes do resultado final, então apesar de a mensagem até se encaixar, ela não é real.
Mesmo assim é um ponto que merece ser apontado e discutido, pois podemos sentir pelo filme que ele se coloca contra os donos dos bordéis e contra os políticos. Ele coloca os dois lados com o mesmíssimo discurso, como disse a lei é moralista e não muda muito, enquanto isso o dono do bordel no filme alerta as mulheres sobre a lei se fazendo de bom, tentando convencer as mulheres de que o bordel é bom para elas, que estariam pior sem os bordeis, que os bordeis fazem um favor para elas.
O que não é verdade.
Para aquelas mulheres é o fundo do poço, e elas são exploradas lá, claramente.
Esse filme tem um elenco de mulheres menor que o do filme anterior e dá atenção para todas elas.
Vemos a história de cada uma, como cada uma foi parar ali e como são abandonadas pela família. Mesmo quando graças a ela que filhos puderam crescer elas são abandonadas por eles.
Uma delas recebe a visita do pai que quer levá-la de volta para casa e o único motivo que ele vai atrás dela é porque a reputação da filha pode manchar o nome da família e prejudicar seus negócios, em um paralelo com a situação do Japão. As prostitutas eram uma vergonha e atrapalhavam os negócios com o ocidente, por isso precisava escondê-las.
Enquanto os bordéis existem e o governo/sociedade não faz nenhum progresso para evitar que isso continue acontecendo apenas uma solução parece existir, as mulheres cuidarem apenas delas mesmas, abandonando a família e dando a volta nos homens e se aproveitando deles.
Uma das mulheres do bordel me pareceu no início fria e cruel, mas ao fim quando entendemos o que ela faz ela acaba saindo como a heroína da história. Ela é a personagem que não reclama de nada durante o filme todo, a que trabalha com mais dedicação e desperdiça menos, porque ela tem objetivos claros e pragmáticos. No fim ela consegue sair do bordel sozinha e ser independente com seu próprio negócio. Se aproveitando dos efeitos de seus próprios golpes ela compra um pedacinho do mundo para ela, e essa é a única solução em uma sociedade que ainda não mudou para acomodar essas novas mulheres.
O Mizoguchi desde sempre fez filmes mostrando a situação dessas mulheres, em seus últimos filmes questionando até quando aquela situação continuaria.
É uma pena que esse seja seu último filme.
Enquanto ele teve a oportunidade de ver a lei anti-prostituição aprovada, e talvez não tenha ficado satisfeito com ela mas pelo menos foi um primeiro passo em frente, ele não viveu para ver a lei entrar em vigor, morrendo em Agosto de 1956.
De todo modo deixou sua marca na cinematografia mundial.
E a última cena do filme foi desconfortável de assistir.
ah, esse filme se passa em Tóquio, só para saber, porque alguns desses filme podem também se passar em Kyoto.
Fazia tempo que não via um sci-fi assim, focado mais na parte humana, emocional no que em efeitos especiais (mesmo assim esses ficaram excelentes). Obra bem escrita (vou ler o livro em que foi inspirado) e dirigida, além de uma OST superba.