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Entrevista com Leiji Matsumoto


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http://henshin.uol.com.br/2010/09/24/ent...matsumoto/
Esta reportagem faz parte das celebrações de aniversário de 10 anos da Henshin. A matéria foi publicada originalmente na edição N° 3, de 2000, sendo a primeira entrevista do mangaká Leiji Matsumoto à imprensa brasileira. O bate-papo aconteceu no estúdio do respeitado autor de quadrinhos japoneses, em Tóquio, conhecido pela criação de séries clássicas de ficção científica como Patrulha Estelar, Capitão Harlock e Galaxy Express 999.

O criador de Yamato – Patrulha Estelar, Galaxy Express e Capitão Harlock fala pela primeira vez à uma revista brasileira. Ele conta sobre sua carreira, suas criações, seus novos projetos – como o novo Yamato – e de sua visita ao Brasil.

Henshin: Quando o senhor decidiu trabalhar com mangá e por que?
Matsumoto: Com 4 ou 5 anos de idade eu comecei a gostar muito de mangás. Naquela época, eu assistia a animes e lia as histórias de um desenhista chamado Tooji, que o meu irmão mais velho comprava. Comecei, então, a desenhar, inspirado nos projetos de aviões que o meu pai fazia. Mas a decisão de ser autor profissional aconteceu quando eu tinha, mais ou menos, 18 anos. Na verdade, tudo foi por uma questão de sobrevivência, já que minha família era muito pobre, e esse, o meu único meio de ajudar no sustento da casa.

Henshin: Qual foi o seu primeiro trabalho?
Matsumoto: Meu primeiro mangá se chamou Submarin, que fiz aos sete anos de idade. Com 11 anos, comecei a publicar trabalhos em jornais e, aos 15, em revistas. Três anos depois, saí de minha terra natal, Fukuoka (província do sul do Japão) e fui para Tóquio trabalhar como desenhista profissional.

Henshin: Por que o senhor costuma usar trens, submarinos e outros veículos como naves espaciais em seus mangás?
Matsumoto: O meu pai era piloto de guerra e participou da 2ª Guerra Mundial. O passatempo preferido dele era desenhar projetos de aviões e estudar mecânica, o que acabou despertando o meu interesse por máquinas, sua estrutura interna, a ordem dos movimentos e tudo mais.

Henshin: De todas as suas obras, qual a sua preferida?
Matsumoto: É uma pergunta difícil de responder. Tenho um carinho muito grande por todas elas, sem exceção. Talvez, um carinho especial pelas obras mais antigas, da época da juventude.

Henshin: Qual a sua participação na transposição de um dos seus mangás para a TV?
Matsumoto: Eu acompanho tudo, desde a produção até a edição final.

Henshin: Conta-se que Yamato foi uma obra encomendada para o senhor. Afinal, o senhor a criou ou só a desenvolveu? Como foi o processo de criação de Yamato?
Matsumoto: A idéia inicial foi fazer um mangá diferente. A minha sugestão de transformar um navio em nave espacial agradou os editores, que aceitaram publicar a história. A criação exigiu muito esforço, pois tive que fazer várias tentativas diferentes, até chegar ao desenho final. Ao mesmo tempo, foi divertido. A medida que os esboços evoluíam, novas idéias iam surgindo, e isso ajudou no processo de concepção de Yamato.

Henshin: Como ficou a situação dos direitos autorais de Yamato em relação a Yoshinobu Nishizaki, que também assinava como o autor de Yamato? Houve mesmo uma batalha judicial pelos direitos autorais da obra entre o senhor e ele como se comenta?
Matsumoto: Atualmente, os direitos autorais pertencem somente a mim. Nossos desentendimentos foram causados porque ele decidiu, sozinho, tirar o meu nome das histórias, em algumas publicações. Além disso, ele chegou a ser preso por tráfico de drogas, o que poderia repercutir negativamente no público, principalmente por ser, em sua maioria, formado por jovens. A batalha judicial não aconteceu, mas nós não temos mais nenhum vínculo: nem profissional, nem pessoal.

Henshin: O senhor teve participação na adaptação e escolha de nomes de Yamato para os EUA?
Matsumoto: Não participei. Os nomes foram escolhidos deliberadamente pelo produtor e por causa disso, eu acabei me desentendendo com ele.

Henshin: Ainda sobre os nomes adaptados para o inglês, o senhor não acha que a mudança do nome da nave de Yamato para Argo descaracterizou sua obra? O senhor aprovou e gostou dessa mudança?

Matsumoto: Yamato é o nome original, em japonês, e quer dizer Nippon (Japão). Ele foi o navio de batalha mais poderoso da Marinha durante a 2ª Guerra Mundial. Me inspirei nele para criar o mangá por acreditar que uma nave espacial deveria ter a mesma força, mas com uma diferença: ela não seria usada para destruir, e sim para levar a humanidade a lugares distantes, em aventuras jamais sonhadas. Não sei dizer se o nome Argo descaracteriza a minha obra, porque o contexto da escolha de nomes no Ocidente é diferente.

Henshin: Muitos fãs de Jornada nas Estrelas gostam muito de Yamato pelas séries terem várias semelhanças. Jornada teria inspirado o senhor a criar Yamato?
Matsumoto: Realmente existem muitos pontos em comum. Coincidentemente, o nome Yamato vem do maior navio de batalha japonês da 2ª Guerra, e Enterprise, a nave espacial de Jornada nas Estrelas, tem o mesmo nome do maior navio da frota americana, também da 2ª Guerra. Outra coisa em comum é a tripulaçao das duas naves, formada por pessoas de diferentes origens étnicas. Mas, o que me deixou muito feliz nessa história de coincidências é que, no ano passado, a viúva de Gene Roddenberry, criador de Jornada, me contou que ele era fã dos meus mangás. Ouvir isso foi muito gratificante.

Henshin: Há alguns anos se especula sobre um filme de Yamato para os cinemas, e que seria produzido pelos Estúdios Disney. O que há de verdade nesse projeto? Ele existe mesmo?
Matsumoto: Cheguei a conversar sobre o assunto com um produtor, mas não aceitei por achar que não era o momento certo para assumir um projeto como esse. Por enquanto, não penso em levá-lo adiante, tenho outros planos.

Henshin: O que o senhor acha de Yamato ser um dos animes mais cultuados de todos os tempos no Brasil?
Matsumoto: Isso me deixa muito surpreso e feliz. Saber que pessoas de outros países, como o Brasil, conhecem e gostam da minha obra, me incentiva a trabalhar cada vez mais, sem descanso.

Henshin: O que o senhor acha do nome brasileiro deYamato: Patrulha Estelar?
Matsumoto: Acho o nome um pouco diferente da proposta original. Afinal, Yamato é uma nave espacial tão grande e potente como um navio de batalha, e Patrulha soa como se fosse algo menor, tanto em tamanho quanto em força.

Henshin: A diagramação de suas histórias é maravilhosa e incomum. Como é o processo de elaboração? O roteiro é todo escrito antes de ser desenhado ou a história vai sendo esboçada através de rascunhos, junto com o texto?
Matsumoto: O meu roteiro de trabalho é o mesmo desde que comecei a fazer mangás: sempre faço primeiro a concepção gráfica, baseada em rascunhos de desenhos. Os diálogos são escritos na fase final do trabalho, quando a parte visual já está praticamente pronta.

Henshin: Em Galaxy Express é comum ver a nave Yamato aparecer voando no espaço. O senhor costuma fazer isso como homenagem ou um dia poderemos ver um crossover entre os personagens de seus mangás?
Matsumoto: Acho que sim. Sou uma pessoa aberta a novas possibilidades, a novas maneiras de fazer mangás. Isso me deixa livre para fazer escolhas diferentes, como reunir diferentes personagens em uma única história.

Henshin: Muito do charme do Yamato clássico deveu-se a trilha sonora, com os temas de Hiroshi Miyagawa e as canções interpretadas por Isao Sasaki. O senhor teve participação na elaboração do conceito musical da série?
Matsumoto: Sim. Gosto de participar de todo o processo de criação. Eles eram ótimos profissionais, mas, mesmo assim dei opiniões a respeito do que era melhor, em termos de arranjos, roteiro musical, etc.

Henshin: O senhor atualmente está trabalhando em uma continuação de Yamato. Dá pra adiantar alguma coisa sobre o novo roteiro?
Matsumoto: Infelizmente, não. Prefiro falar quando o trabalho estiver finalizado.

Henshin: Fora seus mangás e animes clássicos, o senhor tem algum novo projeto?
Matsumoto: Participo de vários programas de educação, que têm como objetivo despertar a curiosidade dos jovens e formá-los como futuros cientistas, conscientes da sua missão de trabalhar por este planeta em que vivemos. Atualmente, dirijo o Programa Japonês de Jovens Astronautas, que pertence a Agência Oficial Espacial do Japão.

Henshin: Para encerrar, contam que o senhor veio ao Brasil para pescar no Pantanal. Isso é verdade ou só uma “lenda”?
Matsumoto: Na verdade visitei o Amazonas e o Rio de Janeiro, em 1978. Saí de Lima, no Peru, e atravessei a selva de barco. Não perdi a oportunidade de pescar, é claro. Mas o lugar que mais me fascinou foi o Rio. Achei a vista do Corcovado impressionante. Ah, acabei de me lembrar de uma coisa. Um dos meus personagens, o pássaro Tori-san, foi inspirado numa ave com um bico enorme, amarelo. Como é o nome mesmo? Ah, sim: Tucano!
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