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Death


Tópico em 'Fanfics & Fanworks' criado por AArK em 30/03/2013, 12:20.
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DEATH
[Imagem: morteceifador_zps9de22d39.jpg]

De cima de um prédio dá pra enxergar melhor a cidade. Quase nenhuma luz ilumina a rua nesta noite, e todos nós ficamos dependentes da luz da Lua. O problema é... Não há estrelas. As nuvens de poluição cobrem o céu, e nos deixam à mercê mais ainda da escuridão e seus problemas. E quais seriam? A violência e a falta de segurança (coisas diferentes completamente relacionadas). Vocês nunca sabe quando vai encontrar um ladrão ou um estuprador pela rua. Ou quem sabe, um assassino...

Olho bem para os pequenos casebres, encolhidos no meio de tantos prédios velhos e outros abandonados. Alguns são apenas quitinetes, não têm nem cozinha ou sala de estar completa. Muita gente que mora aqui é da classe média baixa. Ricos não chegam nem perto. Ainda sim, tem um micro-shopping aqui perto, com muitas lojas no interesse do verdadeiro comércio local. Sim, sim, esse é o bairro da rua do Inferno. A rua Firewall nem mesmo tem tanta importância assim, desde que aquele clube foi formado. Agora ela só é conhecida como a "Rua do Inferno", e só. Ah! E pra quem não sabe, "Inferno" é uma boate e bar de rock. Os roqueiros, drogados, homossexuais, delinquentes, bandidos e até mesmo os assassinos de todo o bairro (e muitos de fora também) vêm para cá, para se "divertir". No inferno tem bebida à rodo, shows de rock barulhentos, muito cigarro e drogas ilícitas rolando, pogo violento, sexo quase explícito e mais várias coisas interessantes pra esse tipo de gente. Por isso que eu digo, às vezes, meu trabalho é bem fácil.

O nome dela é Adrian. Sim, parece nome de homem. Adrian é uma mulher, como já foi dito. E uma mulher muito bonita pelo visto. Pele clara, cabelos avermelhados curtos, olhos verdes. Suas vestes são do jeitinho que o diabo gosta, totalmente pretas, rasgadas e curtas. Normal, se considerar onde ela vive. Ela mora aqui mesmo, na Firewall Street, a Rua do Inferno. E não só isso, ela é uma assídua frequentadora. Vejamos... O que mais eu sei sobre Adrian? Hm... Bom, pelo que eu saiba, ela também é vocalista e baixista de uma banda famosa por essas redondezas, o nome da banda é RedField. Adrian tem um apelido, muitos a chamam de "Kelly", por aqui. Eu sei também, nada a ver com "Adrian". Se ao menos ela se chamasse "Jackeline". Bom, eu sei qual é seu apartamento e a partir de hoje, irei vigiar sua vida. Ver como ela anda em seus dias, seu trabalho (se é que tem um), se relacionando com as outras pessoas, sua educação (o mesmo pro trabalho), sua banda e suas frequentes visitas à Casa do Fogo Eterno.

Nada complicado, um salto, dois saltos, e pronto. Estou em cima do prédio que fica bem defronte ao prédio de Adrian. Tiro meus binóculos... Certo, certo, não tenho supervisão, infelizmente. E agora, começo a vigiar. Ela parece sonolenta em sua cama. Revira-se pra um lado e para outro. Parece dormir um sono tranquilo. Reparo que ela utiliza fones de ouvido, está ouvindo seu mp3 player, provavelmente. Hm... Se for um daqueles rocks barulhentos, me pergunto como ela consegue. Eu só escuto música clássica. Beethoven, por exemplo. Adoro Ludwig Van. Retorno às minhas observações. Ela fica realmente bonita em sono profundo. Será que vai ficar ainda mais bonita em sono eterno? Veremos...

Alguém bateu na porta e ela foi atender. Ela acordou de súbito, porque perturbaram seu sono. Ela abriu a porta e... É um rapaz de moicano vermelho. Quem é esse rapaz afinal!? Só um minuto...

Seu nome é RedRoger, aliás, este é seu apelido. Seu nome é só Roger mesmo (ao menos, tem a ver com o nome). Ele é muito parecido com Adrian porque é seu irmão de sangue. Ele é ruivo, tem olhos verdes, é bem alto e forte. Usa vários piercings na cara e roupas escrachadas e rasgadas. Dizem que é punk. Ele dá um abraço forte na irmã, sorrindo, e chama ela para sair pra algum lugar. Provavelmente, vão ao inferno. Epa... Espera, ainda tá de tarde. Tá meio cedo pra farrear, não? Hm... ... ... AH MEU DEUS! Ela tirou a roupa! Sim, ela tá mudando de roupa! Ugh... Por que eu fiquei tão... tão nervosa só porquê ela tirou a roupa!? Que droga! Ela é só uma mulherzinha, não tem nada a ver! Corpos bonitos e vazios, é só isso! Bom... Ela se vestiu com aquelas roupinhas de puta. Pronto, tá aí um bom motivo pra tudo ocorrer bem! Ela saiu com ele, não sei pra onde vão, mas vou vigiar a entrada do prédio. Se eles saírem eu "corro" atrás. Não posso perdê-los de vista.

Eles não foram nada longe. Na esquina mais ou menos da quadra seguinte há um estúdio. A maioria das bandas do Inferno gravam nele. Agora faz sentido, eles vão ensaiar. O terceiro do grupo está lá. Um rapaz de cabelos negros cobertos por um boné preto, olhos azuis, pele branca, estatura baixa, um magricelo nerd. Os dois irmãos ruivos cumprimentam o conhecido. Deixa eu ver melhor quem ele é...

Seu nome é Paul. E sim, é só isso mesmo. Ele não tem nem ao menos apelido. Paul, diferente dos irmãos metralha, é formado em faculdade, sim, ele possui Ensino Superior em Administração. Dá pra acreditar!? E foi terminar aqui... A explicação natural pra isso é que Paul é filho de família rica, mas deu a "louca" nele e ele se revoltou, e resolveu que ao invés de aproveitar seu diploma pra encontrar um trabalho decente, resolveu que iria passar a vida coçando o saco com uma banda barulhenta no Inferno! Que bom, né? O cara é tão nerd que ainda usa óculos. Fazer o quê...

Voltando... Parece que os três estão entrando no estúdio. Eles vão ensaiar. Red é o guitarrista da banda e o nerd... Digo, Paul é o baterista. Os três começam a tocar várias músicas barulhentas, e aproveitando que estou agora na calçada, eu vou dar uma olhada melhor nisso.

O som... O som é bem barulhento, mas a voz cantada da menina é bastante bonita e proveitosa. Quem dera que ela tivesse um gosto musical melhor. Fico só a observar como ela toca bem seu instrumento também, impressionante. Eu imaginei que ela fosse só uma puta ignorante, mas no final das contas, ela parece ser uma pessoa no máximo (isso mesmo) interessante e só. Nesse "baque" súbito senti alguma coisa me tocando as costas. Alguma coisa dura e gelada. Merda... Estava anoitecendo. Era um maldito bandido apontando uma arma pras minhas costas. Que droga! Isso é hora disso acontecer!?

- Passa tudo! - Ele disse, e eu o encarei com um sorriso sarcástico. Ninguém me assalta e acha que está tudo bem. Ele estava só com uma pistolinha e isso pra mim não é absolutamente nada.

- Passar o quê? Estou sem nada. - Eu disse, e então, um sorriso se abriu em sua face. O maldito estava com idéias sacanas pra cima de mim.

- Você é bonitinha, hein!? Acho que nunca te vi aqui! Então, já que você está dura, vamos fazer o seguinte! Você vem comigo praquele beco ali - Apontou o lugar sujo - E nós vamos nos "divertir" um pouquinho, hein!?

- Idiota... - Eu sussurrei bem baixinho. Mas era sério, ali na rua ao lado dava pra ver os roqueiros do Inferno chegando para invadir a boate/bar. Então, eu não podia chamar atenção. - Certo, vamos pro beco.

Aceitei como fazem as putinhas do inferno. E o velho bêbado ladrão e estuprador maldito foi comigo, achando que estava "abafando". Andamos tranquilamente até a tal ruela sem saída, que mais servia para depósito de lixo dos prédios. E quando chegamos lá, o maldito já foi colocando o pinto nojento pra fora. Eu só abri um sorriso no meio da escuridão... Sangue voou pra todo lado e enfim, não sobrou nem pinto do maldito pra contar história.

Droga... Um atraso desses só pode ser brincadeira. Voltei correndo para o estúdio e eles já tinham ido embora! Mas fiquei tranquila, porque calculei que pela hora, provavelmente estavam no inferno. Agora sim, era a hora de invadir o território inimigo!

Chegando na portaria me deparo com o porteiro. Um careca marombado sem camisa cheio de tatuagens e dois alargadores nas orelhas. Ele me olha com uma cara nem um pouco contente. Eu apenas sorrio. Meu carisma e minha aparência me salvam em horas como essa. O sujeito levantou a sobrancelha e simplesmente me deixou passar. Que bom que o inferno não era pago. O sujeito que cuidava daquele lugar ganhava tanto dinheiro com bebidas, fumo e drogas, que não precisava mais de nada, muito menos cobrar entrada. Dizem que quando a Casa do Fogo Eterno abriu, era paga, e era até meio cara. Mas logo, aos poucos, ela foi ficando famosa, ninguém sabe direito porquê. Hoje em dia, é quase a maior casa de rock de toda a cidade... Talvez, deste País.

Entrei, por sorte, minhas vestes eram negras. Procurei os três patetas por toda a parte, mas não encontrava. Sentei no bar e pedi uma taça de vinho tinto. A mulher riu da minha cara e colocou meu vinho num copo de plástico. Tudo bem... Tudo bem... Não é hora de mandar ninguém pro Inferno, até porque, já estou nele (piadinha infame). Bebi o vinho barato, quase o cuspi ou vomitei. Aquilo revirou meu estômago de uma tal forma. Eu estava o dia todo sem comer nada, apesar de que pra mim, isso nem era tão necessário. Eu podia comer, mas não precisava, entende? Olhei para um bando de sujeitos mal-encarados se estapeando numa rodinha de pogo na frente do palco. Uma banda qualquer com um vocalista que berrava tanto quanto um porco sendo estuprado enchia o Inferno com seu barulho infernal. Eu bem que queria ter um mp3 igual a Adrian. Mas isso se resolve rapidamente... Olhei ao redor, e nada... Nada mesmo. Mas logo, tinha certeza, logo estariam ali os três.

Uma garota de cabelos ondulados arroxeados e olhos mel, sentou-se ao meu lado. Ela era meio morena e tinha um corpo bastante escultural. Tinha piercings, tatuagens e roupas de puta também. Eu a encarei de rabo-de-olho. Ela estava com os olhos grudados em mim, encantada. Não sei porque... Mas de uma certa forma, seu olhar bestificado me encantou. Talvez, enquanto eu esperava Adrian, eu pudesse me divertir um pouquinho. Levantei-me de meu banco e sentei ao seu lado. Ela abriu um sorriso de orelha à orelha. Perguntei-lhe se queria beber e ela disse que sim. Perguntei-lhe o que ela bebia, e ela disse que qualquer coisa que lhe oferecesse (oferecida...), então, lhe paguei um copo de plástico de vinho ruim. Ela aceitou com prazer e tomou uma golada. Seus lábios carnudos estavam pintados num batom avermelhado. Isso me deu uma enorme fome...

- Conhece algum lugar mais tranquilo por aqui? - Lhe perguntei. - Aqui tem muita gente e está muito barulhento.

- Tem o banheiro ou a Dark Room. - Disse ela, e a segunda opção me pareceu mais favorável. Nada de ficar rodeada de privadas entupidas com dejetos humanos boiando, ou pias sujas e deploráveis, baratas no chão e vômitos arroxeados de vinho no ralo. Não, obrigada. Isso seria extremamente broxante.

- Vamos ao Dark Room. Nós duas. - Frisei a última frase e ela ficou satisfeita, acho.

Chegamos a um lugar. Parecia uma espécie de quarto anexado ao "Salão Principal" do Inferno. O tal quarto se chamava Dark Room, porque realmente estava escuro. Lá era mais silencioso e tinham poucas pessoas, e estas, bom... Já estavam ocupadas. Haviam vários sofás confortáveis (acreditem se quiser!) nos cantos das paredes. Sentei-me com a menina (cujo nome ainda não sabia e nem importava muito) em um dos sofás num canto bem isolado. Dali nem dava pra se ouvir o barulho do Salão principal, mas ainda sim, davam para ouvir pequenos gemidos que vinham de um sofá vizinho. Ela sentou-se bem perto de mim e enfim... Eu a puxei para um beijo. Não só um beijo, um verdadeiro amasso. Toquei firmemente e com vontade naqueles lábios grossos suculentos, os mordi (quase arranquei sangue deles de tanta vontade) e ela apenas soltou um gemido de contentamento. Levantei sua minissaia escurecida e passei minha mão pelas suas coxas cobertas por uma meia calça e cinta-liga. E minhas mãos foram deslizando, entrando em lugares quase descobertos. Continuava sugando sua boca com precisão, enquanto meus dedos trabalhavam entrando em suas vestes íntimas, se aproximando do meu real alvo. Foi então, no meio dessa delícia toda que... Eu a vi. Sim, sim, Adrian. Ela tinha acabado de entrar na Dark Room.

Ela não me viu acho, porque estava bem escuro onde eu estava, mas eu a vi (estava mais claro), e depois de tanto tempo espionando-a, acho que gravei bem sua silhueta. Rapidamente, não sei direito porque, solte-me da menina gostosa que eu mal conhecia e levantei de súbito. E novamente, estava agindo irracionalmente. Adrian entrou ali na Dark Room sozinha. Mas afinal, o que ela estava fazendo ali? Estranhei, ela se aproximava, e a menina tentava falar comigo, pra entender minha reação e porque eu havia parado de devorá-la, mas eu estava quase estapeando-a para ela calar a boca que eu tinha algo mais importante em mente. Foi quando o irmãozinho ruivo dela chegou lá, e sua expressão ao falar com ela, mudou de surpresa pra descontentamento. Eu não entendi novamente... O que estava acontecendo!? Ele veio andando em nossa direção, quando eu vi a menina ao meu lado parar de falar. Eu quase agradeci aos céus pelo silêncio dela, até que... Ele parou na minha frente, olhando para ela. Hm... Acho que agora eu estava entendendo.

- Jude! - Ele disse, muito nervoso. - O que está fazendo na Dark Room!?

E a mulher olhou pra mim, com uma cara de coitada, e eu a encarei sem entender. Logo depois, o Red me olhou também. Parecia que ele tinha sacado. Essa Jude aí... Era mina dele.

- Eu não acredito! Está saindo com mulheres de novo! Achei que tinha dito que havia "virado" hétero de vez! Eu... Não acredito! - Ele saiu muito revoltado, com a "Jude" em seu encalço, implorando por perdão.

E enquanto isso, a irmãzinha dedo-duro (que eu achei que não tinha nos visto no sofá, mas pelo visto, eu estava enganada), ficou me encarando. Ela tinha uma cara séria, como se já tivesse me visto antes em algum lugar...

Era outro dia. Eu estava morta de cansaço. Estava dormindo num hotel perto dali, bem melhor que aqueles apartamentozinhos de merda. Tomei banho de banheira, sim. Com espuma e tudo. Fiquei assistindo tevê a cabo de manhã, tomando meu cappuccino e comendo minhas torradas com geléia. Depois de um total "rejuvenecimento", eu me vesti apropriadamente com vestes escuras e elegantes e fui de novo à Rua Maldita.

Na tal Rua, voltei a subir no prédio e a espiar o quarto de Adrian. Ela estava deitada na cama, mas estava acordada. Ouvia música no mp3 e lia um livro. Não sei que livro era, não dava pra enxergar, apesar d'eu ter ficado extremamente curiosa. "Nossa... Será que ela tem cultura mesmo!?" pensei, maldosamente. Muito tempo depois, ela pareceu ter olhado um relógio de pulso e novamente foi trocar de roupa... E mais delírios de minha parte. Ela vestiu-se mais elegantemente que de costume (não dava pra ver suas amígdalas) e saiu. Fui a seguindo com calmaria. Ela arrumou uma moto não sei aonde (ela foi pra trás do prédio, provavelmente, uma garagem) e então, partiu pra estrada. Automaticamente que a vi na moto, percebi que teria que começar a me apressar. Dei um jeito e a segui, sim, sim, peguei um táxi. Algo bem cinematográfico, do tipo, "Siga aquela garota louca na moto!".

Chegamos no Shopping do bairro. Sim, aquele micro-shopping que falei. Ela estacionou no micro-estacionamento dele e entrou. E eu paguei o táxi e fiz o mesmo correndo pra não perdê-la de vista. Descobri que ela trabalhava numa loja do Shopping, mais apropriadamente num cabeleleiro. Ela fazia sobrancelhas, dá pra acreditar? Hm... Por algum motivo, me incentivei a acabar me aproximando mais dela, pra tentar descobrir detalhes importantes que eu ainda não sabia.

- Bom dia, no que posso ajudá-la? - Uma mulher de um balcão me perguntou e eu tentei sorrir, mas estava nervosa.

- Hm... Gostaria de fazer as sobrancelhas. - Sabe o que é mais engraçado? Se tivessem pelinhos "fora da linha" da minha sobrancelha seria muito. Mas tudo bem...

- Ahn... - A mulher pareceu olhar pra elas e me analisar. Ela provavelmente pensou que realmente não tinha nada pra fazer, mas resolveu me atender, afinal, ganhar dinheiro é sempre bom, né? - Sim, vou chamar a Kátia.

- Não, eu... Prefiro a Adrian. - Eu disse, e a moça olhou em um papelzinho no balcão. Ela sorriu e disse.

- Tudo bem, então eu chamo a "Kelly". - Até lá ela era conhecida com esse apelido ridículo! - Seu nome é?

Finalmente...

- Eiria. - Eu disse, e a mulher anotou prontamente numa fichinha.

- Nome diferente! - Disse sorrindo, mas nada agradável, claro que meu nome é diferente, mesmo assim, é melhor que "Kelly". - Tome. Entregue essa ficha a ela.

Nada foi mais hilário que ver a cara de Adrian quando me reconheceu. "É a menina que estava com a namorada do meu irmão no Inferno ontem à noite!" ela deve ter pensado. Ela me mandou deitar numa espécie de "maca" e relaxar. Passou um algodão com alguma coisa em minhas sobrancelhas. Estava bem séria, dava pra notar. Sua respiração, no meio de todo aquele silêncio, estava descompassada de tanto nervoso. Ela enfim, com uma pinça na mão (eu escolhi pinça, porque demora mais e a conversa tem de se prolongar também... Se é que vai haver alguma conversa) analisou a mesma coisa que a balconista já havia feito. Minhas sobrancelhas eram lindas e perfeitas, não precisava MESMO fazer mais nada com ela. Pra disfarçar, ela tirou uns pelinhos ali e aqui (e doeu como o inferno... imagina se eu fosse fazer tudo!?). E enfim, eu me sentei quando ela disse que havia acabado.

- Hm... Não deu trabalho algum, pois, suas sobrancelhas já parecem estar feitas. - Ela disse, diretamente. E enfim, suspirou. - Me diga, isso foi proposital? Sua vinda aqui, sua exigência para que fosse eu a te atender, tentar fazer as sobrancelhas mesmo que não precise!?

Ela foi bem direta mesmo. Ouvir sua voz era algo incrível, afinal, até agora só tinha podido ter essa chance nos poucos minutos antes do bêbado maldito me atacar. Eu fiquei um pouco desnorteada, "viajante", avoada, sabe? E enfim, a respondi:

- Não. - Eu disse, na maior cara lavada. Eu sei ser cínica quando quero, mesmo que seja meio óbvio. - Eu só queria pedir desculpas, eu não sabia que ela tinha namorado. Ela simplesmente deu em cima de mim e eu aceitei.

- Tudo bem. Eu já sabia disso, ela disse. - Adrian disse, olhando para bolsa. Evitava meus olhos. - E eu imaginava que seria impossível simplesmente você ter saído com ela porque sabia que ela namorava meu irmão. Apesar que... Estou ainda me perguntando como é que você sabe meu nome e que eu trabalho aqui.

- Hm... - Fiquei um pouco rubra. Não sei direito dizer o porquê. - Vamos dizer que te vi na rua de moto e te segui... Acabei vindo até aqui pra falar com você.

- Mas o que quer falar comigo? Não veio aqui pra pedir apenas desculpas não é? - Ela disse, sentindo-se intimidada. Não era o que eu queria, sério...

- Só isso mesmo e... Se você não quer sair pra tomar um café ou algo mais forte. - Eu disse, sorrindo. Jogando meu charme irresistível.

- Hm... Faltam pelo menos 3 horas pr'eu ser liberada para o almoço. - Ela disse, e então, abri meus dentes novamente.

- Eu espero. - Eu disse, saindo do "consultório" de beleza. E ela ficou lá parada, meio surpresa. Alguém ia mesmo esperar 3 horas só pra tomar um café com ela?

Eu nunca mais tento ser galanteadora. Não dá certo. Fiquei horas seguidas, sentada num banco duro de madeira, lendo um bando de Marie Claire (Como escreve isso!?) velha. E era sempre aquelas coisas supérfluas de cosméticos, maquiagem, lingeries, dietas, homens, moda e blablabla... Um verdadeiro saco. É nessa hora que se nota como a raça humana é completamente fútil. Bom, mas eu acho que esse tempo todo vingou, de inda e vinda de clientes que iam fazer suas sobrancelhas, eu a via chegar no balcão, e ela me encarava surpresa, ao ver que eu ainda estava ali firme e forte (aparentemente, apenas, pelo visto...). Eu simplesmente (engolia o tédio) sorria pra ela, tentando passar-lhe confiança (e também fazer-lhe se apressar mais, pra que eu não tivesse de esperar tanto assim).

Logo, ela acabou saindo um pouco mais cedo (umas 2 horas e meia depois apenas) e veio até meu encontro sem acreditar ainda no esforço que fiz só pra tomar café com ela. Mas nesse momento, acho que aguentaria até uma aguardente.

- Nossa... E-eu... Não sabia que você ficaria aqui as 3 horas mesmo. - Ela disse, sem jeito. E eu novamente abri meu sorriso arrasa-quarteirão e dei-lhe uma desculpa esfarrapada.

- Não tenho nada pra fazer, não é? - Eu ainda tenho meu orgulho, afinal. - Vamos?

- T-tudo bem. - À essa altura do campeonato, me rejeitar seria impossível (E também, se ela o fizesse, eu a matava! Mas... Uhn... Deixa pra lá).

- Vamos beber o que? - Perguntei-lhe sorrindo, e ela respondeu.

- Pode ser um café mesmo.

Tomei café com leite e ela tomou um café preto e comeu uns pãezinhos de queijo. Enquanto isso, ficamos conversando. Ela disse que tinha terminado o Ensino Médio, coisa que nem seu irmão terminou. Que gostava muito de ler e queria fazer Faculdade, assim como o baterista nerd, só que de Jornalismo. Que estava trabalhando pra se manter e também pra juntar dinheiro pra realizar seu sonho. Fiquei completamente encantada com todas aquelas revelações que simplesmente destruíram absolutamente toda a imagem horrorosa que eu tinha construído dela quando disseram-me que ela era uma roqueira do Inferno. Ela me falou sobre a banda, que era aliás, o sonho de seu irmão e que acabou se unindo ao sonho de todos e no fim, eles ainda persistem com isso. Disse-me que também gostava de música clássica, reggae, jazz e blues, que tinha um gosto bem variado e que não gostava só de rock barulhento. Eu fiquei bastante surpresa também. Acabei comendo um pouco com ela, pois não havia almoçado ainda. Pedimos sanduíches grelhados de quejo cheddar com copos de guaraná natural (pra ela) e mate (pra mim). Bom, no final das contas, conversamos muito mesmo, durante toda 1 hora de almoço que ela tinha.

- Eu... Tenho que voltar ao trabalho! - Ela disse, fazendo uma cara de muxoxo.

- Tudo bem. Estou te atrasando também. - Eu disse, como sempre bem polida. E dessa vez, foi ela quem sorriu pra mim. Eu fiquei estonteada com tão belo sorriso. Dentes tão brancos e certinhos. Nossa, ela era realmente uma coisa imprevisível!

- Não está não. Eu... Adorei conversar com você. Você... É uma pessoa maravilhosa. E eu nem sabia disso. - Ela disse, e pela primeira vez, senti em meu corpo umas reações adversas... Senti um friozinho no estômago quando ela disse isso.

- Você que é maravilhosa. Saiba disso. E, bom, como eu disse, peça desculpas ao seu irmão por mim. Diga-lhe que nunca mais me aproximarei de sua namorada. - Eu disse, rindo.

- Nem precisa. Os dois já terminaram! Ela vivia o trocando por mulheres! Pelo visto, ela é ainda uma lésbica que tenta disfarçar-se de hétero! Isso nunca dá certo! - Ela disse, como se fosse uma vasta conhecedora do assunto.

- E você é o quê? - Perguntei, muito interessada. Ela ficou vermelha, foi uma cena interessante.

- Eu... Também sou lésbica. - Ela disse, com vergonha. E dessa vez, simplesmente, idéias muito doidas passaram por minha mente. Idéias que nunca dariam certo. - E você?

- Eu sou bissexual. - Eu disse, revelando outro dos meus enigmas eternos. E enfim, nos despedimos com beijinhos no rosto... Eu aproveitei e aspirei um aroma impressionante que vinha dela. Um cheiro de perfume doce, absurdamente gostoso. Acho que aquilo me deu mais um frio na barriga. Isso era um problema, certamente.

Ela foi embora, andando, enquanto eu via seu corpo de costas. Hm... Corringindo: Ela é NO MÍNIMO, interessante. No máximo... Amável demais.

Dia seguinte. Sim, mais uma vez passou. Quase não consegui dormir a noite. Tive vários sonhos infames e indesejados, que eu procurei logo cortar pela raiz. Acabei passando a madrugada assistindo Animal Planet, um programa sobre Orangotangos (???). Tomei meu banho, vesti minhas roupas, larguei meu café (estava sem fome alguma) e saí. E mais um dia, eu teria de me aproximar de Adrian. Anteriormente, eu teria pensado que me envolver seria ainda pior... Na verdade, eu estava plenamente certa. Se envolver não era necessário quando a pessoa era uma tremenda filha da puta. Mas quando ela era tão interessante assim... Se envolver poderia ser perigosíssimo. Isso poderia atrapalhar todos meus planos, e isso seria realmente uma coisa ruim. Ela estava novamente em seu quarto.

Me surpreendi ao ver no quarto um cavalete e uma tela. Ela estava pintando. Por algum motivo, fiquei ainda mais interessada pra ver do que se tratava. Resolvi que iria lhe fazer uma visita. Afinal, ela me disse que morava naquele prédio, na conversa no shopping. Cheguei-me à portaria sem porteiro, que confiava em suas grades de aço, e apertei o interfone. A imaginei dando um pulo de susto. Ela veio descendo as escadas (o elevador estava ruim) e quando me viu, um sorriso ficou plenamente estampado em sua face.

- O-oi! Você veio! Estava... Pensando em você! - Ela disse, e então, abriu o portão de ferro pra mim. Eu sorri e lhe dei beijinhos na face como anteriormente. Segui-a pelas escadas até o segundo andar, onde seu apartamento ficava. Entramos no local. Era uma quitinetezinha. E tudo lá dentro era interessante. Desde a cor das paredes do quarto, que eram de um azul-hortência muito bonito, a cama desarrumada cheia de livros e o mp3, um armário com roupas e estantes com mais livros e alguns cds, um pequeno mini-system não muito caro, quadros psicodélicos e alguns auto-retratos nas paredes até mesmo ao banheiro com apenas uma ducha comum. Um contra-baixo enfeitava ao lado da cama junto à um amplificador de tamanho médio.

- Você toca baixo, não é? - Eu disse, e enfim, encarei o cavalete com a tela. Estranhamente... A tela havia sumido. Provavelmente, ela a havia escondido. Mas por quê?

- Sim, toco. - Ela sorriu, fingindo não notar meu interesse pelo cavalete.

- Todos os quadros aqui foram pintados por você? - Perguntei, olhando. Tinham pinturas de seu irmão, do baterista nerd, de outros roqueiros estranhos, algumas dela mesma e o resto eram pinturas psicodélicas sem sentido.

- Sim, todos. - Ela disse, ainda simpática.

- Muito incrível. Ao invés de jornalismo, você deveria fazer arte. - Lhe disse, e ela riu-se.

- Gostaria de fazer também. Mas como teria de escolher só uma. Não tenho dinheiro para pagar duas! - Ela disse, explicando-se. E eu lhe encarei, com uma cara doce. Não sei porque, gostava daquele jeito, ao mesmo tempo despojado e extrovertido, ainda conseguindo ser tímido ou docinho como maçã-do-amor (Deus! Que exemplo mais brega! O que está havendo comigo!?).

- Você é tão incrível, Adrian. - Eu lhe disse, diferente de todos, chamando-lhe pelo nome e não pelo horrível apelido.

- Ahn... - Ela foi pega de surpresa. Ficou muito sem jeito, e enfim, complementou. - Você também é, Eiria.

Me chamou pelo nome. Algo que me deixou realmente nervosa... E no fundo, frustrada. Eu não aguentaria por mais nenhum segundo... Eu...

- Acho que... - Eu não podia, eu não deveria! Eu não poderia me permitir! - Acho que eu me apaixonei por você, Adrian.

Fui sincera. Com a sinceridade que Deus me deu e só. Isso era terrível. Por que eu não conseguia fazer o mesmo que sempre fiz e esconder tudo o que sentia? Eu poderia ser fingida se quisesse. Poderia ser fria, impassível, intransponível... Mas não! Por algum motivo, todas as minhas "amarras" maravilhosas se quebraram, e me transformei em um bichinho intimidado e assustado! Por algum motivo, alguma bomba de sentimentos e emoções inútil e problemática estourou dentro de mim, e fez a verdadeira Eiria, tão profissional e calculista, explodir-se em mil e um pedacinhos de paixonite aguda!

- ... - Adrian ficou paralisada. Acho que ela não esperava uma reação tão abrupta. Provavelmente, romance não era uma coisa muito ligada ao Inferno. Eu poderia é claro receber algum tipo de resposta violenta ou mesmo fria em troca da minha declaração tão rápida e impensada. Mas... Não foi bem isso que aconteceu.

Ela deu uns quatro passos pra frente, ficando a alguns cm de distância de mim. E, eu pude sentir seu hálito quente de menta (pasta de dente?). Meus braços seguraram sua cintura, como um cavalheiro à sua dama. E ela segurou-me pelo rosto, apoiando-se em meus ombros. Nossos lábios quentes se tocaram, e um beijo aconteceu. Lábios molhados, línguas alvoroçadas se friccionavam,... Todo aquele bando de sentimento ruim e indesejado simplesmente surgiu dentro da minha mente, coração e até mesmo meu estômago, e fodeu com tudo o mais que poderia. Meu coração começou a palpitar forte, minhas mãos ficaram frias, assim como minha espinha, suei frio... E todo aquele blablablá romântico! Jogamo-nos na cama, e eu comecei a despí-la com precisão. Faria o que fiz à menina do Inferno, só que dessa vez, com mais paixão.

A fiz gozar várias vezes, penetrando-a com meus dedos. Senti seu gosto delicioso como se estivesse morrendo de sede (ou fome). Ouvi seus gemidos mais belos que suas canções, enquanto ensaia com sua bandinha barulhenta. Passei os dedos por seus cabelos avermelhados e lisos, que deslizaram até as pontas (dos dedos). Beijei quase todo seu corpo, de sua face, até a ponta de seus pés macios, cheirosos e brancos. Não sei realmente que loucura que me deu, mas aproveitei aquilo como nunca tinha aproveitado sexo antes (porque não era sexo, era amor, acho...). E no final das contas, abraçadas, nuas, na cama, ainda trocando leves carícias e beijos apaixonados, ela me declara:

- Eu acho que nunca senti isso por alguém, Eiria. É muito estranho. É a terceira vez que estou te vendo, e me sinto assim, nas nuvens. Eu acho que realmente, também estou apaixonada por você. Muito mesmo. - Ela disse, e eu beijei seus lábios avermelhados docemente. Hm... Que delícia essa menina.

Foi então, que tivemos uma surpresinha. Seu irmão adentrou batendo a porta com agilidade, parecia estar vindo correndo. Mas ora essa! Eu achei que ele batia na porta pra entrar! Nós duas nos "cobrimos" com o lençol, mas... Ele pareceu realmente furioso em me ver!

- N-não acredito!!! - Ele gritou, muito bravo e batendo a porta, agora pra fechá-la. A irmã estava em choque e eu estava com cara de paisagem. - Primeiro a minha namorada e agora a minha irmã!? Quem diabos é você e o que você quer!?

- Red, não fala assim com ela! - Adrian me defendeu. - E-ela... Ela não teve culpa do que aconteceu com a Jude. Ela não sabia que a Jude tinha namorado!

- Não é!? Não parece! É muita coincidência isso! Por que com tantas meninas na porra do inferno ela ia ficar logo com a minha namorada e minha irmã, em três dias!? - Isso era verdade. Era muita semelhança pra ser mera coincidência.

- Red... Eu... E ela... Nós... Estamos apaixonadas uma pela outra. - Adrian disse mais que deveria, certamente. Eu calculei que aquilo só pioraria. Levantei-me sem me importar se ele me via nua ou não... Seria a primeira vez que aquele cretino veria alguma coisa realmente incrível (tirando a irmã dele, claro), e comecei a me vestir ignorando suas reclamações.

- Apaixonadas!? Você está louca, Adrian!? - Acho que faz parte do pacote "ficar com raiva", falar o verdadeiro nome da pessoa. - E você!? Fica com a minha irmã e ainda acha que vai embora assim!?

- Estamos sim! - Adrian insistiu, e levantou-se, também nua. O irmão não ligou, devia estar acostumado. - Eu... Estou apaixonada por ela, Roger!

- Meu Deus do céu!!! Não acredito nisso!!! O que diabos essa maldita tem!? - Ele disse, e enfim, eu me emputeci (já estava vestida). Quem era aquele troglodita pra falar daquele jeito de uma "dama" como eu?

- Maldita, não. Eu também estou apaixonada por sua irmã. Sinto muito se sua namoradinha te colocou um par de chifres, mas infelizmente, a culpa não é minha. Veja bem, isso não tem nada a ver com meu relacionamento com sua irmã, ok? Então pare de brigar com ela e pare de nos culpar e vai arrumar alguma coisa construtiva pra fazer, certo? - Eu disse isso, e ele veio com tudo pra cima de mim. Me levantou pela gola da minha blusa e estendia o pulso na forma de um provável soco que ameaçava me dar. Eu apenas abri um sorriso sarcástico, enquanto sua irmã corria pra tentar pará-lo.

- Pare, Red! Não a machuque! - Como se isso fosse possível. - Por favor! Eu... Eu a amo!

E quando ela disse isso, ele me largou. Olhou com ódio pra nossas caras e enfim, saiu batendo a porta. Adrian começou a chorar. Senti uma enorme vontade (racional) de sair fora de lá rapidinho e continuar meu trabalho, fingindo que nada aconteceu. Era o melhor a se fazer, mas... Eu acabei ficando lá (emocional) e acudindo a minha "amada". Enquanto ela chorava em meu ombro e eu beijava seus cabelos sedosos e cheirosos, ficava pensando em que merda realmente eu me meti.

Último dia. O idiota do irmão ruivo dela teve de se contentar com o meu romance com a sua irmã. Enquanto isso, eu tentava pensar na melhor maneira de me livrar de meu destino. Marquei um encontro, um jantar com ela, e lá fui eu. O jantar seria no restaurante mais caro do shopping - o que não era grande coisa - e é claro, eu pagaria.

Chegando lá, com um vestido muito elegante, pedi uma mesa (que havia reservado) e sentei-me para esperá-la. E logo, ela chegou. Estava linda, deslumbrante. E isso só fez minhas convicções ficarem ainda mais fortes. Estava usando até brincos e parecia ter tirado os piercings que usava normalmente, só pra ficar mais chique. A maquiagem em seu rosto não estava dark, estava suave e incrível. Ela estava perfeita, de verdade. Isso só fez meu coração bater mais forte e minhas emoções pulsarem à flor da pele. Quando ela me viu também parece ter se assombrado. Ela sentou-se e a primeira coisa que disse foi exatamente sobre isso:

- V-você está tão linda... - Ela disse, e como sempre, mostrei meus dentes à ela.

- Obrigada. Mas você está mais. Está parecendo uma venus-de-milo atual. - Ela riu quando eu disse isso.

Pedi ao garçom o menu e pedimos juntas um prato. Ela quis que eu escolhesse, ela disse que comeria o que eu comesse. Então, pedi um medalhão de perú ao molho madeira e vinho pra acompanhar. Enquanto a comida não chegava, degustávamos o vinho e conversávamos trivialidades. Ela falou que seu irmão finalmente havia aceitado e que por isso, ela estava radiante aquele dia. Ela disse que finalmente tinha conseguido a quantia certa para fazer a faculdade de jornalismo. Disse que estava terminando um quadro importante e que gostaria muito de me mostrar, mas fazia questão de ficar com ele. Que andou ouvindo mais Beethoven, porque a fazia lembrar-se de mim. Que sua banda tinha shows marcados no Inferno e que isso poderia encabecear um futuro sucesso, e aumentar as vendas de sua Demo. E muito mais coisas.

Comemos quando a comida chegou, claro, e muito bem. Matamos nossa fome e ficamos nos devorando com olhares enquanto o fazíamos. Pedi-lhe que fosse ao banheiro comigo antes de pagarmos a conta, e ela aceitou. Dentro do banheiro a fiz minha novamente. O banheiro era muito chique, e por isso, era bem grande, espaçoso, elegante e perfumado. Completamente excitante fazer aquilo com ela ali. A toquei de novas formas e tentamos variadas posições que fossem possíveis naquele local. Antes que percebessem que havíamos sumido e pensassem que fossemos embora sem pagar, voltamos rapidamente à mesa. Estávamos rubras, mas nossos cabelos ainda estavam "no lugar". Ela me presenteou com o sorriso mais lindo do mundo de contentamento e gratidão. Eu não sei... Mas ver aquele sorriso só me deixou com mais dor no coração. Por quê?

- Adrian. Sabe por que te chamei aqui? - Ela deve ter pensado várias coisas.

- N-não... Por que? - Me perguntou, ingênua.

- Porque preciso te dar isso. - Lhe entreguei um envelope. Uma carta. E ela olhou praquilo sem entender.

- O que é isso!? - Ela perguntou e já ia abrindo o envelope, quando lhe parei com as mãos.

- Espere. Deixe-me ir embora para que você leia, ok? Não quero que o faça agora. - Lhe disse, sorrindo um calmo sorriso. Mas de alguma forma, meu interior estava um verdadeiro furacão de dor e sofrimento.

- Tudo bem... - Ela disse, guardando o envelope.

Chamei o garçom e paguei-lhe a conta. A encarei e simplesmente pedi-lhe um beijo. Ela ficou um pouco tímida de fazê-lo ali na frente de todos, mas mesmo assim, acabou cumprindo o que lhe pedi. Nós nos beijamos e foi maravilhoso. Foi um beijo longo que incomodou todo mundo no restaurante. Depois disso, nos retiramos. Eu lhe dei um longo abraço também, de despedida, e disse que precisava resolver umas coisinhas. Nos despedimos e eu a vi partir... Andando, de costas, pra longe de mim. Era doloroso demais, era triste demais... Meus olhos começaram a marejar. Fui correndo ao banheiro do shopping, chorando muito. Olhos vermelhos e ardidos. Eu os esfregava sem dó nem piedade, como se aquilo fosse me livrar da dor emocional. Saí do banheiro com muita gente me olhando, mas pela primeira vez, não liguei a mínima. Peguei o elevador e subi até o último andar do shopping. O andar era "aberto", por assim dizer.

Enquanto isso, podia sentir com minhas entranhas, que ela estava lendo a carta. Eu sabia que ela ia cair no choro, logo assim que terminasse de lê-la. E eu sabia também que ela tentaria me procurar, mas seria tarde. Por isso, ela desistiu e enfim, voltou a sua casa. E enquanto ela terminava o quadro que pintava de mim, morrendo de fúria, dor e paixão de morte,... Eu tirava meus pés do chão.

- Não tem jeito. Essa é a minha única saída. - Eu disse, abri os braços e me lancei no espaço do tempo. Sim, sim, de cara pro solo duro de concreto da rua. As calçadas com gente passando pra lá e pra cá, olhando para mim assustadas e horrorizadas. Eu deixei de existir.

"Querida Adrian,
Você foi a melhor e a pior coisa que aconteceu em minha vida.
A melhor, porque eu te amei mais que tudo nessa vida. Mais do que eu mesma e mais do que a minha própria vida e destino.
A pior, porque tudo o que eu pensei que era capaz de lutar contra pra cumprir o que eu era destinada a fazer se destruiu assim que você passou por minha vida.
Você não sabe, mas tenho de revelar que... Eu sou a pessoa que deveria te matar.
Eu só comecei a investigar sua vida, porque eu tinha que te matar.
Mas assim que te conheci e me apaixonei perdidamente à primeira vista, eu percebi que essa já era uma batalha perdida.
E por isso, minha querida, estou aqui apenas pra te dizer que... Só há um único jeito de me livrar dessa incumbência. E também de te livrar deste destino, que é a morte.
O jeito é... Se eu doar minha vida em troca da sua.
Portanto, depois que terminar de ler esta carta. Desista de me procurar...
Eu já vou estar morta.
Beijos,
Com muito amor profundo e absoluto,
Eiria,
A Morte."

O quadro ficou bem bonito e realista. Eu acho...

-.-

É mais uma noite quente no Inferno. A incrível banda RedField toca pra todos ouvirem. O baterista Paul dá um solo de bateria que faz todo mundo - que antes tinha o tratado com preconceito por causa de suas vestimentas e personalidade - pirar! RedRoger, o famoso, também faz um solo de guitarra em homenagem à sua nova namorada! Mas apesar disso tudo, a vocal e baixista Adrian, mais conhecida como Kelly, continua cantando canções tristes...

- Acabou por hoje. - Ela diz no microfone e todo mundo aplaude. Eles saem do palco. Red está bastante chateado.

- Cara... Esquece! Se ela terminou com você o que vocês mal começaram foi porque ela nunca prestou assim como eu disse! - Red disse. Sim, Adrian tinha mentido para ele. Ele nunca acreditaria no que realmente aconteceu.

- Cale a boca e nunca mais fale sobre isso. - Ela disse, suas lágrimas já eram secas... Depois de tanto derramá-las.

- Afff... Só "tou" tentando ajudar, maninha! - Ele disse, pegando uma cerveja longneck e abraçando sua namorada.

O baterista fica meio nervoso pelo clima do lugar, mesmo agora sendo bem tratado, e dá tchau pros amigos dizendo que vai pra casa estudar. Kelly está desconsolada... Ela vai pro bar e pede muitas doses de vodka seguidas. Uma garota senta ao seu lado e dá em cima dela. Ela a dispensa. E é sempre assim... Ela não consegue ficar mais com ninguém.

O barulho do lugar está lhe incomodando. Ela então pega suas duas doses restantes de vodka e vai até a Dark Room. E lá dentro, meia dúzia de casais sejam gays ou héteros se "pegam" nos sofás macios. Lá está melhor... Mas o silêncio e o escuro lhe fazem pensar naquelas coisas que não gostaria. Saiu a matéria no jornal, garantindo a morte dela... E isso foi o que doeu mais ainda e lhe fez chorar mais e mais dias seguintes. E agora, depois de alguns meses, as coisas pareciam que ainda não passaram dentro de si. Algo estava incompleto. Era a falta que a outra fazia.

De repente, uma menina sentou-se ao seu lado. Era uma menina estranha, desconhecida. Ela simplesmente sorriu pra ela, e de alguma forma, Adrian sentiu que deveria tentar esquecer sua dor. As duas se abraçaram e começaram a se beijar. Enfim, a tal menina encostou a boca no ouvido dela e disse:

- Senti saudades, Adrian... - E quando a menina baixista ouviu aquela voz tão conhecida, seus olhos encheram-se de lágrimas.

FIM
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