14/03/2012, 05:41 |
1.0 - Perspectivas da população
A população brasileira encara as forças armadas muito mais como uma coisa interna do que externa. O Exército é aquele que defende a institucionalidade da república democrática, é a medida final e definitiva de força caso as polícias (militar, civil e federal) falhem no cumprimento do seu dever. A FAB é ainda vista como aquela que organiza o espaço aéreo, que carrega materiais e alimentos para regiões remotas do país e em situações de calamidade. E a marinha é quem vigia o mar contra "piratas" e contrabandistas.
Uma escassa parte da população consegue ter uma visão menos simplista e distorcida do que são as forças armadas e para que servem.
1.1 - Deterrência
O fortalecimento militar para impedir o ataque de um possível agressor devido à intimidação ou retaliação é algo pertinente. Por quê? Porque só poder de influir por inspiração e pelo exemplo não basta. Como diria Carl von Clausewitz (militar da Prússia, 1780-1831): "A guerra é a continuação da política por outros meios".
No início dos anos 80 o Brasil não prestou atenção quando fontes militares de Buenos Aires disseram a um jornalista brasileiro que retomariam as Malvinas. Por conta de mais um episódio da nossa bonomia, em pouco tempo o Brasil se veria constrangido à precária neutralidade, assistindo um poder naval expressivo operar defronte ao seu extenso mar territorial e tendo de fazer apressadas interceptações de aeronaves estrangeiras. Felizmente, tudo ficou nisso.
O que mudou desde então? Nada.
Prevalece a crença na inexistência de ameaças externas e mesmo a aspiração ao Conselho de Segurança da ONU acontece sem consciência das correspondentes responsabilidades militares. Nem a riqueza do pré-sal sacode a inércia.
Como aconteceu nas Malvinas, vontades políticas autônomas podem, a qualquer momento, provocar conflitos prejudiciais ao interesse nacional e regional, e isso só pode ser evitado se o Brasil assumir as responsabilidades que dele se esperam.
E também há coisas não tão óbvias em uma primeira instância. A água potável será um bem tão precioso no futuro próximo que será mais fácil ter guerras em busca de água do que de petróleo. E considerando que o Brasil dispõe de 18% de toda água doce superficial da Terra, enquanto que só 2,8% da população mora aqui, não deverá levar muitos anos que olhos ambiciosos olhem para esta direção. Seja pelo Pré-sal, seja pela água potável, Brasil precisa se precaver dos desejos alheios, pois há épocas em que diplomacia não funciona e você precisa usar a força militar. Às vezes de forma passiva, ao ostentar um poderio militar que irá desestimular um possível agressor.
2.0 - Gastos militares
Temos uma população de 200 milhões de pessoas, um grande território e uma longa costa, mas nossos gastos de Defesa são pequenos se comparados aos de outros grandes países. Nosso limitado poder militar tem o fim de preservar a soberania nacional, a segurança e a integridade do território. Mas quão limitado ele é?
Hoje, segundo dados de mercado, o Brasil gasta 1,6% do PIB com a indústria de defesa, um percentual abaixo do verificado tanto em nações ricas quanto nas emergentes: o Chile gasta 3,5%, os Estados Unidos, 4,8%, o Reino Unido, 2,7%, a China, 2,1%.
2.1 - Força aérea
Os constantes adiamentos na decisão da compra dos novos aviões de caça nos faz vislumbrar em um futuro não tão distante o colapso total da defesa aérea do país; tendo em vista que os atuais Mirage 2000B/C serão desativados no ano que vem e os modernizados Northrop F-5E/FM Tiger II começam a ser desativados em 2017. Aliás, estes últimos eram para ser aposentados antes devido a fadiga estrutural (afinal, são aviões bem antigos), mas como ficam virtualmente parados nos hangares da FAB, evita-se o desgaste (e nos faz questionar sobre a sua utilidade prática).
A propósito, o Financial Times disse que o Brasil teve mais um voo de galinha:
http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2...log-do-ft/
“A economia bem sucedida do Brasil, que cresceu 7,5% em 2010, voltou para a terra (em uma referência ao PIB de 2,7% em 2011) e o Banco Central, pela insistência do governo, está determinado a fazê-la voar novamente”, diz o artigo.
Se o Brasil vai decolar novamente, o jornalista Joe Leahy tem dúvidas.
“Então, a galinha vai voar novamente este ano? E ela será capaz de voar pelo menos tão bem quanto um falcão, mantendo uma constante, senão um ritmo chinês de crescimento? A resposta é não. Pelo menos não neste momento. As ineficiências do Brasil, como o orçamento inchado do governo que, com todos os seus gastos, deixa de investir, vão segurar o país abaixo de uma trajetória de crescimento até que alguém comece a pensar em reformas”
Na sequência de eventos temos:
http://economia.estadao.com.br/noticias/...5640,0.htm
"O Brasil vem aumentando cada vez mais nos últimos anos sua dependência da exportação de matérias-primas. No ano passado, apenas seis grupos de produtos - minério de ferro, petróleo bruto, complexo de soja e carne, açúcar e café - representaram 47,1% do valor exportado. Em 2006, essa participação era de 28,4% "
O que isso tem a ver com o Projeto FX-2 de reequipamento e modernização da Força Aérea Brasileira? O governo arrecada um absurdo, mas absorve quase tudo com despesas de custeio e retorna para a sociedade, em investimentos, quase nada. Portanto, é inaceitável que o governo alegue questões orçamentárias para não concluir o FX-2. O FX-2 vem acompanhado de capacitação industrial. O FX-2 é um investimento. Entrementes, estamos rumando para a desindustrialização da economia nacional.
2.2 - Marinha
A prioridade estratégica da Marinha do Brasil, para ser cumprida em várias fases durante 15 anos, é o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul, o SisgAAz. A área de cobertura do SisgAAz é imensa – cerca de 4,5 milhões de quilômetros quadrados – equivalente à metade do território brasileiro, tão grande quanto a Europa Ocidental.
O aparato é destinado a vigiar e proteger um tesouro – na indústria da energia são 15,3 bilhões de barris de petróleo, 133 plataformas (86 fixas, 47 flutuantes) de processamento da Petrobrás, patrimônio decorrente de investimentos da ordem de US$ 224 bilhões, de 2010 até 2015.
Mais ainda: são desenvolvidas pesquisas sobre a biodiversidade exótica encontrada nas fontes hidrotermais localizadas nas zonas de encontro das placas tectônicas. As características apuradas permitem garantir em escala bilionária o aproveitamento na indústria farmacêutica e de cosméticos. O oceano, na abrangência controlada pelo Brasil, abriga, ainda, 80 reservas de 100 materiais estratégicos. Mapeadas, não prospectadas.
Todavia, os planos da marinha vem sendo dificultado pelos baixos orçamentos e pela baixa prioridade atribuída à Defesa no país. Só ver a demora do governo em iniciar o Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper). Este programa visa à construção de cinco NPaOc, cinco fragatas polivalentes e um navio de apoio logístico (NApLog), além da obtenção de capacitação tecnológica para projetar modernas belonaves no país.
2.3 - Exército
A fronteira brasileira é tão vasta que descrevê-la evoca superlativos: 16.886 quilômetros separando o Brasil de 11 países vizinhos, numa faixa que abrange dez Estados e 27% do território nacional. Uma área tão extensa que vigiá-la tornou-se quase impossível. Mas com a maior projeção do Brasil na economia global, a proteção dos limites do País tornou-se um assunto prioritário na estratégia de defesa nacional. Para evitar o trânsito de traficantes de drogas, contrabandistas e guerrilheiros, o governo montou um ambicioso projeto com o objetivo de manter os confins brasileiros sob permanente vigília.
Numa estimativa inicial, serão gastos R$ 11,9 bilhões ao longo dos próximos dez anos para montar o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron). A Amazônia, por exemplo, cuja internacionalização é tema recorrente no noticiário mundial, receberá atenção especial. A gigantesca floresta, hoje vigiada por 21 Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs), receberá 28 novos postos de vigilância em seis Estados da Amazônia Legal. Cada um tem um custo estimado de construção de R$ 8,5 milhões. “Com a escassez de recursos naturais, a proteção do território é cada vez mais uma questão de soberania”, diz o general João Roberto de Oliveira, assessor especial do Comando do Exército para o Sisfron.
Contudo, considerando o passado, qual será o futuro deste Sisfron? É um projeto de longo prazo e é notório que os políticos brasileiros enxergam um futuro tão distante quanto a próxima eleição. Mudado o governo, cortes e readequações de projeto serão feitos como de hábito no cenário nacional.
A população brasileira encara as forças armadas muito mais como uma coisa interna do que externa. O Exército é aquele que defende a institucionalidade da república democrática, é a medida final e definitiva de força caso as polícias (militar, civil e federal) falhem no cumprimento do seu dever. A FAB é ainda vista como aquela que organiza o espaço aéreo, que carrega materiais e alimentos para regiões remotas do país e em situações de calamidade. E a marinha é quem vigia o mar contra "piratas" e contrabandistas.
Uma escassa parte da população consegue ter uma visão menos simplista e distorcida do que são as forças armadas e para que servem.
1.1 - Deterrência
O fortalecimento militar para impedir o ataque de um possível agressor devido à intimidação ou retaliação é algo pertinente. Por quê? Porque só poder de influir por inspiração e pelo exemplo não basta. Como diria Carl von Clausewitz (militar da Prússia, 1780-1831): "A guerra é a continuação da política por outros meios".
No início dos anos 80 o Brasil não prestou atenção quando fontes militares de Buenos Aires disseram a um jornalista brasileiro que retomariam as Malvinas. Por conta de mais um episódio da nossa bonomia, em pouco tempo o Brasil se veria constrangido à precária neutralidade, assistindo um poder naval expressivo operar defronte ao seu extenso mar territorial e tendo de fazer apressadas interceptações de aeronaves estrangeiras. Felizmente, tudo ficou nisso.
O que mudou desde então? Nada.
Prevalece a crença na inexistência de ameaças externas e mesmo a aspiração ao Conselho de Segurança da ONU acontece sem consciência das correspondentes responsabilidades militares. Nem a riqueza do pré-sal sacode a inércia.
Como aconteceu nas Malvinas, vontades políticas autônomas podem, a qualquer momento, provocar conflitos prejudiciais ao interesse nacional e regional, e isso só pode ser evitado se o Brasil assumir as responsabilidades que dele se esperam.
E também há coisas não tão óbvias em uma primeira instância. A água potável será um bem tão precioso no futuro próximo que será mais fácil ter guerras em busca de água do que de petróleo. E considerando que o Brasil dispõe de 18% de toda água doce superficial da Terra, enquanto que só 2,8% da população mora aqui, não deverá levar muitos anos que olhos ambiciosos olhem para esta direção. Seja pelo Pré-sal, seja pela água potável, Brasil precisa se precaver dos desejos alheios, pois há épocas em que diplomacia não funciona e você precisa usar a força militar. Às vezes de forma passiva, ao ostentar um poderio militar que irá desestimular um possível agressor.
2.0 - Gastos militares
Temos uma população de 200 milhões de pessoas, um grande território e uma longa costa, mas nossos gastos de Defesa são pequenos se comparados aos de outros grandes países. Nosso limitado poder militar tem o fim de preservar a soberania nacional, a segurança e a integridade do território. Mas quão limitado ele é?
Hoje, segundo dados de mercado, o Brasil gasta 1,6% do PIB com a indústria de defesa, um percentual abaixo do verificado tanto em nações ricas quanto nas emergentes: o Chile gasta 3,5%, os Estados Unidos, 4,8%, o Reino Unido, 2,7%, a China, 2,1%.
2.1 - Força aérea
Os constantes adiamentos na decisão da compra dos novos aviões de caça nos faz vislumbrar em um futuro não tão distante o colapso total da defesa aérea do país; tendo em vista que os atuais Mirage 2000B/C serão desativados no ano que vem e os modernizados Northrop F-5E/FM Tiger II começam a ser desativados em 2017. Aliás, estes últimos eram para ser aposentados antes devido a fadiga estrutural (afinal, são aviões bem antigos), mas como ficam virtualmente parados nos hangares da FAB, evita-se o desgaste (e nos faz questionar sobre a sua utilidade prática).
A propósito, o Financial Times disse que o Brasil teve mais um voo de galinha:
http://g1.globo.com/platb/thaisheredia/2...log-do-ft/
“A economia bem sucedida do Brasil, que cresceu 7,5% em 2010, voltou para a terra (em uma referência ao PIB de 2,7% em 2011) e o Banco Central, pela insistência do governo, está determinado a fazê-la voar novamente”, diz o artigo.
Se o Brasil vai decolar novamente, o jornalista Joe Leahy tem dúvidas.
“Então, a galinha vai voar novamente este ano? E ela será capaz de voar pelo menos tão bem quanto um falcão, mantendo uma constante, senão um ritmo chinês de crescimento? A resposta é não. Pelo menos não neste momento. As ineficiências do Brasil, como o orçamento inchado do governo que, com todos os seus gastos, deixa de investir, vão segurar o país abaixo de uma trajetória de crescimento até que alguém comece a pensar em reformas”
Na sequência de eventos temos:
http://economia.estadao.com.br/noticias/...5640,0.htm
"O Brasil vem aumentando cada vez mais nos últimos anos sua dependência da exportação de matérias-primas. No ano passado, apenas seis grupos de produtos - minério de ferro, petróleo bruto, complexo de soja e carne, açúcar e café - representaram 47,1% do valor exportado. Em 2006, essa participação era de 28,4% "
O que isso tem a ver com o Projeto FX-2 de reequipamento e modernização da Força Aérea Brasileira? O governo arrecada um absurdo, mas absorve quase tudo com despesas de custeio e retorna para a sociedade, em investimentos, quase nada. Portanto, é inaceitável que o governo alegue questões orçamentárias para não concluir o FX-2. O FX-2 vem acompanhado de capacitação industrial. O FX-2 é um investimento. Entrementes, estamos rumando para a desindustrialização da economia nacional.
2.2 - Marinha
A prioridade estratégica da Marinha do Brasil, para ser cumprida em várias fases durante 15 anos, é o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul, o SisgAAz. A área de cobertura do SisgAAz é imensa – cerca de 4,5 milhões de quilômetros quadrados – equivalente à metade do território brasileiro, tão grande quanto a Europa Ocidental.
O aparato é destinado a vigiar e proteger um tesouro – na indústria da energia são 15,3 bilhões de barris de petróleo, 133 plataformas (86 fixas, 47 flutuantes) de processamento da Petrobrás, patrimônio decorrente de investimentos da ordem de US$ 224 bilhões, de 2010 até 2015.
Mais ainda: são desenvolvidas pesquisas sobre a biodiversidade exótica encontrada nas fontes hidrotermais localizadas nas zonas de encontro das placas tectônicas. As características apuradas permitem garantir em escala bilionária o aproveitamento na indústria farmacêutica e de cosméticos. O oceano, na abrangência controlada pelo Brasil, abriga, ainda, 80 reservas de 100 materiais estratégicos. Mapeadas, não prospectadas.
Todavia, os planos da marinha vem sendo dificultado pelos baixos orçamentos e pela baixa prioridade atribuída à Defesa no país. Só ver a demora do governo em iniciar o Programa de Obtenção de Meios de Superfície (Prosuper). Este programa visa à construção de cinco NPaOc, cinco fragatas polivalentes e um navio de apoio logístico (NApLog), além da obtenção de capacitação tecnológica para projetar modernas belonaves no país.
2.3 - Exército
A fronteira brasileira é tão vasta que descrevê-la evoca superlativos: 16.886 quilômetros separando o Brasil de 11 países vizinhos, numa faixa que abrange dez Estados e 27% do território nacional. Uma área tão extensa que vigiá-la tornou-se quase impossível. Mas com a maior projeção do Brasil na economia global, a proteção dos limites do País tornou-se um assunto prioritário na estratégia de defesa nacional. Para evitar o trânsito de traficantes de drogas, contrabandistas e guerrilheiros, o governo montou um ambicioso projeto com o objetivo de manter os confins brasileiros sob permanente vigília.
Numa estimativa inicial, serão gastos R$ 11,9 bilhões ao longo dos próximos dez anos para montar o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron). A Amazônia, por exemplo, cuja internacionalização é tema recorrente no noticiário mundial, receberá atenção especial. A gigantesca floresta, hoje vigiada por 21 Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs), receberá 28 novos postos de vigilância em seis Estados da Amazônia Legal. Cada um tem um custo estimado de construção de R$ 8,5 milhões. “Com a escassez de recursos naturais, a proteção do território é cada vez mais uma questão de soberania”, diz o general João Roberto de Oliveira, assessor especial do Comando do Exército para o Sisfron.
Contudo, considerando o passado, qual será o futuro deste Sisfron? É um projeto de longo prazo e é notório que os políticos brasileiros enxergam um futuro tão distante quanto a próxima eleição. Mudado o governo, cortes e readequações de projeto serão feitos como de hábito no cenário nacional.